sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um pouco mais de amor...



...então assisti “ Estamira”! E de repente minha alma ficou nua, dela transbordaram todos os sentimentos - vergonha, dor, amor, raiva, medo, culpa, admiração...
Acredito que quanto mais vivo mais me sinto incapaz, vulnerável, perecível...Aqui, na Cidade Maravilhosa encontramos milhares de “ Estamiras”, mulhers e homens que encontram no lixo uma possibilidade de sobrevivência. Por todos os lados enxergamos, se quisermos, a dor social que nos cerca.
“O filme Estamira revela antes de mais nada o respeito à escuta do outro, do diferente, do estranho. Estranho que, entretanto, nos é familiar de alguma forma. Como não admirar - e concordar - com a frase dita por uma doente mental crônica segundo a qual "não existem mais ´inocentes´, mas sim ´espertos ao contrário´”? (Por LUIZ FERNANDO GALLEGO).
Isso me lembra uma frase constante de minha vida – Alongar o olhar. Penso que quanto mais faço isso me entristeço, oras, enxergar adiante é ver um mundo cheio de complicações, onde a paixão pela imagem, poder e dinheiro nos torna um bando de desconhecidos e egoístas, buscando falsas impressões, onde a fraternidade passa longe e o amor está cada vez mais sendo colocado de lado. Até onde precisamos ir para nos encontrarmos? Confesso que a “liquidez” do mundo me apavora e quanto mais alongo meu olhar mais sinto medo, não sei se tenho a força de Estamira láaaaaaaaa no fundo, também não posso julgá-la pelas palavras duras durante todo o documentário, mas com certeza não a chamaria de louca, longe disso, depois de ouvi-la percebi que somente quem vive determinada situações pode falar a respeito das mesmas...
Senti tudo, ou melhor, quase tudo, chorei copiosamente e percebi que diversas vezes “choro de barriga cheia”,percebi que tem mais coisas por aí a fora, vida, morte, medo, pavor, solidão, destruição, tem gente que vive de lixo! Tem gente que vive de mentiras! Tem gente que vive do nada...
Assim me pergunto - O QUE NOS FAZ FELIZ? O que é a felicidade? Posso falar que alongando meu olhar vejo coisas boas também, posso ver soluções. Precisamos vencer o preconceito em suas várias faces, o mal e a nós mesmos. Aqui, habitam várias Mavies, amorosa, briguenta, sensível, carente e mais uma infinidade de coisas, o tempo, as ações e reações liberam Mavies por aí, mas eu tenho o controle, não posso culpar ninguém por minhas ações e vc? Como anda o seu controle? Afinal, a própria Estamira diz: “tudo que é imaginário tem, existe, é”. Então podemos mudar muita coisa, basta querermos.

Mavie


" E bem podemos suspirar aliviados ante o pensamento de que, apesar de tudo, a alguns é concedido salvar, sem esforço, do torvelinho de seus próprios sentimentos as mais profundas verdades, em cuja direção o resto de nós tem de encontrar o caminho por meio de uma incerteza atormentadora e com um intranquilo tatear".

O Mal-Estar na Civilização (Sigmund Freud).

domingo, 21 de junho de 2009

O espaço entre nós...



Dormi pensando, como todos os dias, em você
...aquela sensação de que faltava algo ao meu lado persistia,
Percebi que se penso sou metade, se não penso sou vazio...
Neste instante sou inteira, escrevo-te toda inteira.
Claro que talvez não se veja aqui, por alguma razão estás aí.
Pode me responder uma coisa? Por que me perco quando te vejo? Posso fazer outra pergunta? - Por que fico assim depois que te falo tanta bobagem?
Sabe o que lembrei agora? Linhas de um livro da Clarice Lispector – “Ouve-me, ouve o silêncio. O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão”.
Será que seria difícil fazer isso? Assim, se eu te falar não é, mas quando te olho, pode ser... Dá pra entender? Só não esquece que não sou linhas...
Você me confunde, este teu sorriso me alegra, irrita, entristece-me... De repente veio aquela sensação de “solitude”... Ah, isso somente você entenderá, não é? Esse segredo é nosso...
Tentei apagar suas fotos, não consegui, será que estou doente? Não ri, nem pensa que estou ficando maluca, ou melhor, pensa sim, decidimos por unanimidade que sou doida, lembra? Preferia estar falando sobre outra coisa agora, mas a minha cabeça dá voltas e onde pára se depara com você. Pode me deixar um instante? Descobri que sendo te magoou, não posso ser quem tu queres, sou EU, aquela, que fala o que sente e se arrepende no próximo instante. Somos tão diferentes... Lembro que me falou isso hoje, lembro de tudo que me falas, inclusive do espaço entre nós dois...
Acordo e vou para nossa janela, e lá vem você, como se nada houvesse acontecido. O que é preciso fazer para te tirar do sério? Grita, diz que não quer mais me ver, pois eu não consigo fazer isso sozinha. Perdi aquilo que dizem ser “a palavra”. Ok! Admito, estou em profunda desordem, a sua organização me exaspera. Neste momento não sei de nada, só que estou meio, ou completamente perdida e consciente cada vez mais do espaço entre nós.



Mavie

domingo, 31 de maio de 2009

A terra do encantamento...



Encantar
v.t. Exercer suposta influência mágica. / Seduzir; cativar; fascinar: encantar serpentes. / Agradar extremamente. / Provocar irresistível admiração: encantar um auditório. / Causar satisfação; agradar profundamente: estou encantado com o encontro (Aurélio).

Quando eu tinha uns doze, treze anos, lembro-me que ficava encantada com as flores do jardim de minha casa e mais ainda quando dançava na chuva com meus irmãos e minha prima Elaine. Acho que mais encantada que isso fiquei a partir dos catorze, quando passei a ler todos os romances possíveis, Júlia, Sabrina, Bianca, etc. nossaaaaaa, com certeza passaram dos dois mil livros, ler aquelas estórias românticas me deixava extremamente encantada, aguardava ansiosa o meu príncipe “encantado”... rsrsrs.
A partir de então foram vários encantos e desencantos, mesmo quando não parava para pensar sobre a força e significado desta palavra – ENCANTAR.
Comecei a pensar nela depois de me encantar com as histórias de um amigo, quando ele me contava sobre a sensação do vento em seu rosto ao sair de moto sem rumo pelas lindas montanhas de sua região, sobre sua vida e seus desejos, etc. nossas conversas me encantavam, até que um dia me vi completamente “encantada” por ele. Entretanto, um dia o mesmo veio me falar de alguém (que não era eu) que o estava encantando, daí veio meu desencanto, como um jato de água fria, mas não como aquela chuva que me encantou um dia, e sim como um vento triste que vem e fica... Eu não mais o encantava, sofria...
Em vez de alongar meu olhar fiz o contrário, não queria enxergar nada além de minha dor, parei de ler os sinais do tempo, o encanto que estava em toda parte eu não mais o via... Peguei todos os desencantos ao longo dos anos e criei uma blindagem que inevitavelmente cegou-me... Abri várias portas, família, amigos, livros, poesias, dores, histórias, estórias, conversas, vidas... Voltei!!!! Deixei-me enxergar outros encantos, percebi que a vida é assim, E HOJE EM PAZ COM A VIDA, entrego-me a outros encantos... Hoje tem os teus olhos, o teu sorriso, este sorriso meio de canto, tímido, sonhando com os sucos de maracujá... rsrs...hoje tem você, que me encanta.
Dedico este texto a todos que me encantaram e encantam nessa vida de encantos...

Mavie

“Pe. Fábio de Melo diz que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza. Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também. Precisamos descobrir que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida que nos empenharmos em não reter a vida (...). Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes”.

domingo, 17 de maio de 2009

Infinitas possibilidades...




“ Uma outra circunstância ainda me atormentava sem cessar: verificava que não me parecia com ninguém e que ninguém se parecia comigo. “Eu sou sozinho, enquanto que eles, eles são todos!”, dizia-me; e punha-me a refletir.”
Dostoievski

Há dias como hoje, longe de chegar perto do Dostoievski, tento chegar próximo ao abismo da minha alma. Procuro entender este emaranhado de sentimentos, ora inebriados de felicidade, ora imersos numa profunda solidão, procuro-me... Talvez por conta desta eterna busca acho-me um pouquinho todos os dias, perco-me noutros.
Acabei de conversar com uma amiga, onde ela falou sobre a eterna busca do seu eu, dúvidas sobre o querer, amar, futuro, etc. Claro que o fato de estar na casa dos 30 a entristece mais ainda, ela acredita estar perdida, sem soluções. O que dizer a alguém que sofre tanto tentando encontrar-se? Que vivo também de dúvidas, que somos organicamente “perdidos”? Enfim, depois de conversarmos horas a fio percebi que me perdi um pouco mais...rs
Dia desses estava tendo um papo cabeça com meu querido amigo Hugo quando falei para ele que estava com medo do que as pessoas estavam fazendo com o mundo. Acho que estava num momento deprê, ou sedenta de respostas... sei lá, mas a verdade é que realmente me preocupa as reações do “todo”. Vivemos num bate e volta, agredimos, somos agredidos, erramos, descontamos nossas “decepções” em outras pessoas que talvez não mereçam... somos injustos e injustiçados a todo momento e além de tudo, precisamos cuidar para não nos “perdermos” nessa vida de desencontros.
Nesta semana o Rossi me perguntou se eu havia encontrado a minha poesia, rsrs, respondi que não, mas pensei seriamente sobre o assunto, e percebi que a encontro todos os dias, quando vejo minha família, ou mesmo com um telefonema, quando converso sobre as mais loucas histórias com os meus colegas de trabalho, quando chego em casa e me deparo com as melhores amigas que alguém pode ter, ou seja, a minha vida é uma poesia. Acredito que a resposta para todas as perguntas está diante de cada um de nós, basta querermos enxergá-las, concorda? Ou vivermos na eterna ignorância do ser.
Hoje as 18:00 eu, a Anna e a Cris fomos andar na praia, de alguma forma aquilo me chamava, sentia sede do mar, da brisa, e quando menos esperávamos estávamos tomando banho de roupa sob uma lua linda, acredito que quem passava naquele momento devia pensar que estávamos embriagadas, CONFESSO - eu estava embriagada de poesia - aquele mar, aquela sensação de paz me fez até acreditar que tinha voltado a ser criança...rsrsrs, escolhi ser feliz, escolhi sair de minha toca e tocar o mundo.
Pensei na perda de tempo ao me irritar com bobeiras, em sonhar com pessoas que nada acrescentariam em minha vida e não me trariam a poesia que tanto amo, pensei em estar viva, pronta para ganhar o mundo, como ainda hoje me disse o Emmanuel...
Hoje me despeço de vocês deixando um conselho, olhem a sua volta, a poesia esta em todos os lugares.
Mavie
P.S. Deixo também este lindo poema...

“Quando o ardor da minha palavra persuasiva do abismo obscuro do erro retirou tua alma, profundamente degradada, e quando, cheia de uma dor atroz, torcendo os braços, maldisseste o vício que te havia fascinado, quando a tua consciência castigando, à existência passada renunciaste, e escondendo em tuas mãos teu rosto, de repente, cheia de horror e de vergonha, tu choraste…”

Nikolai Nekrássov

terça-feira, 21 de abril de 2009

Castelos de areia...



“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir às nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fechar; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuir; como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade. (Ecles. 12)

Dia desses estava lendo a Bíblia quando este texto me chamou a atenção, não por ser “duro”, mas pela semelhança com o meu dia a dia. Trabalhar com moda, num bairro entusiasta da moda, numa cidade que cultua a vaidade, só me faz perceber que está cada vez mais difícil assumir a velhice. O comércio da aparência humana descobriu o elixir da eterna juventude. Fortunas são movimentadas para prolongá-la o máximo possível, ou pelo menos, a ilusão de que ela é infindável: cirurgias plásticas, academias de malhação, pílulas energéticas e rejuvenescedoras, bebidas revitalizadoras, alimentos dietéticos etc. O que vemos são mulheres e homens recorrendo aos mais diversos tratamentos antienvelhecimentos, ou seja, o que antes representava motivo de orgulho, hoje virou uma vergonha.
Ainda ontem um colega de trabalho fez um comentário que me fez escrever sobre este tema, ele falava sobre a enorme quantidade de idosos do Leblon, e ainda fez uma brincadeira do tipo, por que eles não ficam em casa? Claro que o coitado ouviu um grande sermão meu, rsrs... disse a ele que os “idosos” eram normais e tinham o direito de saírem para onde e quando quisessem e blá, blá, blá...
Sei que já tive essa conversa com vários amigos, mas entristeço-me com esta idéia equivocada sobre “velhice”... Claro que eles não sabem que trabalho com uma “senhora” de quase sessenta anos que vende objetos eróticos e explica as maravilhas de cada um... rs e que existem diversas senhoras "Ana" e senhores "Pedro" por aí, que descobrem que estar mais “velho” não quer dizer “morto”.
Acredito que vivemos imersos num campo de “ilusões”, peço licença para resumir o que acho disso tudo com uma frase do Augusto Cury, “... a sociedade atual possui um rolo compressor que massifica o intelecto dos jovens, aborta o pensamento crítico e os tornam estéreis, meros repetidores de dados”. Acho que é por aí, vivemos à sombra de uma sociedade que valoriza o visual em detrimento ao conteúdo real e essência humana. Fazemos questão de lamber a embalagem e colocá-la em pontos alto para que as pessoas possam ver o quanto sabemos amar o externo e o vazio. Esquecemos que o amanhã vem para todos, juntamente com as rugas e os cabelos brancos, e por que não nos preocuparmos que venha com a sabedoria?
Esse culto à beleza faz pessoas desfigurarem seus rostos acreditando que podem voltar a ter um de quinze. Ingênuos, não há cirurgias que apaguem as cicatrizes do coração, pois estas sim são motivos de preocupação. Acho que andamos tão preocupados com o externo que nos esquecemos de cuidar do mais importante, em minha opinião, que é tentar responder a questões bem simples, como: Quem somos? O que nos faz feliz? O que precisamos melhorar para sermos bons seres humanos?
Sei lá, muitas vezes penso que sou realmente muito ingênua, minhas amigas me chamam de aspirante a Santa, rsrsrs, mas possivelmente posso ser classificada como um “ser pensante”, afinal não me imagino sem meus pensamentos, onde eles se mostram sedentos de respostas. Normalmente respondo para muitos como sendo uma “ignorância humana” esta falta de “reconhecer-se”, ou talvez a experiência que cada um passa, pois esta sim é motivo de muitas de nossas ações.
Resumindo este assunto que dava para falar dias, penso que o medo de envelhecer faz perder uma fase super importante de nossa vida, o “amadurecimento”. Parece-me que envelhecer, amadurecer, tornar-se um sábio, ficou para poucos.

Mavie

domingo, 8 de março de 2009

A vergonha


Confesso que nestes dias me encontro em meio a grandes reflexões. Dois livros, uma propaganda de cerveja, um caso grave de repercussão nacional com mais uma infeliz manifestação da igreja católica e por fim uma pergunta: O que estamos fazendo com os nossos valores.

“A vontade de poder e independência se tornou tão disseminada que agora é considerada normal” (A Cabana - William P. Young). Fato, o modelo em que a humanidade vive hoje está longe de ser aquele capitalismo idealizado, ao contrário, esse sistema foi totalmente distorcido ao longo dos anos, vivemos forçados dentro de uma concorrência feroz e esmagadora, onde os valores humanos perdem lugar para os patrimoniais.

Ainda sobre o livro acima citado, será que Mackenzie estava certo ao falar que gastamos a maior parte no nosso tempo e energia tentando adquirir o que achamos “bom” como segurança financeira, poder, saúde e aposentadoria, etc? E mais uma quantidade gigantesca de energia e preocupação temendo o que determinamos que fosse “mau”?

O segundo livro também me dá uma verdadeira fisgada:

“ – Quando considero a brevidade da existência dentro do pequeno parêntese do tempo e reflito sobre tudo o que está além de mim e depois de mim, enxergo minha pequenez. Quando considero que um dia tombarei no silêncio de um túmulo, tragado pela vastidão da existência, compreendo minhas extensas limitações e, ao deparar com elas deixo de ser Deus e liberto-me para ser apenas um ser humano...”, (Augusto Cury – O Vendedor de Sonhos).   

O tempo passa tão rápido que quando nos damos conta já foi, vivemos no excesso: de compromissos, informações, pressões sociais, competições, metas, cobranças, etc. Olho ao meu redor e percebo que vivo cercada de pessoas robotizadas, sem propósitos, sem significado, sem metas, especialistas em seguir ordens e não em pensar, em olhar além do próprio umbigo... O que fazemos com este individualismo? Ou melhor, o que fazemos com esta cegueira humana?

Não sei o que se passa na cabeça de vocês, mas existem momentos que o vazio toma conta de minha alma, parece que falta tudo, deixo de perceber-me. Daí leio um livro, a bíblia, e volto, acredito que Deus é amor, assim como o pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Entretanto, me perdoem por expressar aqui uma grande dúvida:

Com que direito um bispo ou a igreja católica pode interferir na vida de uma família, alvo de uma tragédia, mas precisamente uma criança de nove anos, vítima de estupro com gravidez gemelar correndo risco de morte caso levasse a gestação adiante e ainda se sentindo no direito de excomungar a equipe médica e a família da menor, com o total apoio do Vaticano, bem como acontecia no época da inquisição. Será que as pessoas compreendem o real significado do Livre Arbítrio que nos foi concedido por Deus? Ou melhor, até onde o homem pode julgar o certo e o errado? Certo para quem?

Como hoje sou a personificação dos questionamentos, quero deixar bem claro que quando penso no personagem “guerreiro” me vem à cabeça Jesus Cristo, Gandhi, Joana d´Arc, São Jorge e várias outras personalidades que contribuíram com suas próprias vidas na esperança de se construir um mundo melhor. No entanto, hoje assistindo televisão, me deparei com um comercial de cerveja chamando um famoso jogador de futebol de guerreiro.

Antes de comentar o fato, quero deixar bem claro que não tenho nada contra futebol, muito pelo contrário, apenas acho que é lamentável um homem que não conhece o significado de respeito por ele e por seus entes ser tratado como GUERRREIRO em uma sociedade tão sofrida e miserável onde a maioria dos pais de família tem de trabalhar 12, às vezes 14 horas por dia para ganhar um salário mínimo e sustentar uma família numerosa. Então meus amigos me digam, dentro desse contexto, quem seriam verdadeiramente os grandes guerreiros do nosso país??? 


Dedico este texto a Anna, uma amiga que me ajuda nessa caminhada de descobertas e crescimento!


Mavie

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Uma breve jornada...



 Estava lendo “Neve” de Orhan Pamuk, maravilhoso por sinal, quando me deparei a uma frase que me fez abandonar o livro e vir aqui escrever sobre ela - “a brevidade da jornada do homem do nascimento à morte”.

Olho para trás e vejo uma Mavie sorridente, sonhadora, com os mais engraçados apelidos por sua magreza, vejo moradores de uma pequenina cidade do interior da Bahia, onde muitos acreditam em lobisomem, caipora e outras tantas lendas... Vejo pessoas que te sorriem quando vai visitá-las e agradecem por isso, vejo inocência...

Se olhar mais um pouco atrás vejo as mais contagiantes histórias de minha avó Rosa, aquela que espera encontrar o seu amado Pêdo no céu. Parece que foi tudo ontem, festas de família, fazenda cheia de netos, tios, filhos, avós, risos, galinhas, patos... Sinto o cheiro do café de mainha, o sabor dos seus bolos de aipim, lembro das brincadeiras com meus irmãos, da competição de quem subia nas mais altas árvores... Claro que não posso esquecer que painho só me deixou usar batom depois dos 16, antes disso tinha que ser escondido...rs... lembro da doce mágica em “ser” e “fazer” parte dessa família...

Mas a “brevidade” das coisas vem como onda certeira, toma tudo, deixa lembranças para alguns e a indiferença para outros, apagando assim aquilo que já passou.

 Hoje quando acordei fui ao mercado e como sempre tudo me chama a atenção - coisa de mulher de cabeça velha, talvez – aquela menina de rua que está sempre dormindo quando passo - vive num mundo só dela e das drogas - aquele flanelinha que acorda toda a rua e disputa seu “ponto” com outros moleques, esse senhor que passeia com seu cão, onde não saberia dizer quem é o mais solitário, entre tantos outros vejo a impaciência humana em filas do mercado, elevadores, lojas, ruas, onde o “por favor” e “obrigado” passa longe.

Acredito que o mais preocupante é o egoísmo, transmutado em individualismo exacerbado em nossa sociedade, como diz meu amigo Hugo... O “dar” perde espaço para o “receber”, ok, ok, é a lei da sobrevivência, muitos devem estar pensando, mas será que só nos resta o “cada um por si e Deus por todos”?

Será que as pessoas se dão conta da brevidade de nossa jornada? Que a boa aparência com o tempo se vai, o dinheiro não garante vida eterna e felicidade e mesmo os mais avançados tratamentos não livram da morte? Acredito que a maioria não, caso contrário não me depararia com tanto mau humor logo cedo da manhã; hoje no mercado vi uma elegante senhora tratar muito mal um atendente, na hora pensei – Não posso chegar à idade desta mulher sabendo tão pouco da vida – penso que temos muito que aprender - é impossível chegar aos 60,70 numa redoma, intocável pelo amor, bons modos, educação e blá, blá, blá...

Talvez hoje esteja mais “densa”, como diz o Rodrigo, ou mais irritada, sei lá, então fico assim, a pensar sobre a efemeridade das coisas, pessoas, sonhos...

Inté,

 

Mavie

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Esses dias de solteira...



... me deixaram realmente maluca - O mundo está cada vez mais louco ou não existe lugar para mulheres “decentes”? Nesses tempos de envolvimentos superficiais e do “ficar” encontramos homens e mulheres seguindo alguns padrões grotescos da sociedade pós-moderna, entre eles, curtir a vida adoidado sem respeitar a si próprio e muito menos aos outros.

Esta semana senti vontade de arremessar vasos na cabeça de alguns homens, juro que senti... primeiro numa boate, onde um “ficante” depois de vários elogios sugeriu delicadamente que eu fosse sua “amante”, claro que antes de rir na cara dele perguntei o por quê daquela proposta, o safado teve a cara de pau de me dizer que tinha uma relação não sei das quantas, que sua suposta namorada morava a 300 km daqui e que eu não entenderia se me explicasse... Concluiu a babaquice dizendo que se considera muito sincero e “diferente” dos outros homens e que eu só teria a ganhar em ser sua amante...

Como se não bastasse, ontem, assim que acordei me deparei com este email de outro “admirador”: (tirei nomes, telefones e emails para algumas mulheres não caírem na tentação)...rs

“Oi princesa,


Acho que talvez a gente possa se dar muito bem.
Eu moro no Leblon. Trabalho no Centro do Rio.
Sou casado. Tenho 36 anos. Branco. Olhos verdes. 1,76m. 73Kg.
Me considero uma pessoa eclética e podemos conversar sobre muitas coisas interessantes. Tenho ótimo astral e posso ser uma amizade verdadeira para você. Às vezes me sinto um pouco sozinho e desanimado com a rotina da vida.
Sou maduro, com certeza eu saberia respeitar os seus limites e sou muito honesto e transparente comigo mesmo e com as pessoas. Ah, e não sou nem um pouco indeciso.
Tempo é o que me mais me falta nessa vida! Acho que para a maioria das pessoas o que mais faz falta é dinheiro.
Sou rico!
Embora eu seja casado, o casamento está bem chatinho...Acho que vc me entende.
Gostaria de marcar um almoço com você. O que vc acha?

Meu tel é ...

Aguardo a sua resposta,

Beijos...”

Acho que este idiota recebeu o email mais perverso da sua vida.

As pessoas estão cada vez mais sem noção. Saí daqui de casa “arretada” e fui para o meu trabalho, queria desabafar, contei para as meninas o ocorrido e sabe o que ouvi de duas delas? – Me dá o telefone dele que eu topo e ainda combinaram de dividi-lo. Claro que não preciso dizer a vcs que fiquei pior do que estava, neh? Falei para ambas que por causa de mulheres como elas eu ouvia as mais loucas barbaridades destes retardados.

Sei lá, cada vez entendo menos a hipocrisia dos relacionamentos modernos, namorar para dizer que não está só? Casar para não ficar p titio(a), ahhhhhh, poupe-me dessas idiotices (perdão por este vocabulário horroroso), é que realmente não tenho paciência com tanta gente sem noção...  

Posso adiantar para todos que isso não é um problema do Rio de Janeiro, já vi coisas parecidas ou piores em Salvador e ouvi da boca de um ex-ficante que mora em Fortaleza, acho até que este é pior, pois conseguiu durante certo tempo me fazer acreditar nele, depois de alguns meses de “amor e mentiras” falou que seria “sincero” - eu era a mulher que ele queria como namorada, gostava muito de mim, mas morávamos a quase 2.800 km um do outro e ele estava começando um mestrado, sendo assim “precisava” arrumar uma namorada lá, pois não queria ficar saindo e tudo mais...

Então relacionamento virou um jogo de interesses? Namorar, ficar e casar para muitos é somente comodidade?

Bom, o fato é que não me incomodo com o que as pessoas façam, contanto que não me tirem como boba, também detesto mentiras, estou pedindo demais para um mundo onde existe uma enorme inversão de valores? Ah, outra coisa, não quero ser “amante” de ninguém, pode até parecer piegas, mas ACREDITO NO AMOR...




quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sobre meninas e medos...


Depois de passar pelo blog de minha querida Carrie onde em seu último texto ela fala de nossa amiga Charlote tive a impressão de estar revivendo um pedaço da minha vida, onde a baixa auto-estima, fuga para o mundo virtual e o desejo de esconder-se do mundo eram companheiros constantes de minha caminhada. Acredito que existam várias Charlotes por aí, pessoas lindas que na verdade se escondem de si próprias. Freud em seu texto de 1920, “O mal-estar na civilização”, chegou à conclusão que o indivíduo não pode ser feliz na civilização moderna. Mesmo com todo progresso técnico e cientifico o homem não se tornou mais feliz. Ao refletir sobre o propósito da vida, ele chegou à conclusão de que o objetivo da civilização não é a felicidade, mas é a renúncia a ela. A vida do indivíduo é a busca constante pela realização da satisfação do prazer, mas esta  satisfação é impossível de realizar num mundo carente e escasso de recursos...

Neste texto maravilhoso concordo com ele em vários aspectos, vivemos num mundo altamente competitivo, onde é cada um por si e Deus por todos, mas a minha alma romântica, apesar dos inúmeros tropeços, ainda acredita na felicidade, afinal, que seria de nós meros mortais sem essa crença? Bom, voltando ao blog de minha amiga, ela conta que Charlote vive no momento um caso virtual onde só está fazendo mal a ela, sem contar que a própria está com uma baixa auto-estima que vem preocupando a todos que a amam. Tenho duas coisas a dizer, a primeira é para Carrie:

Entendo perfeitamente a sua preocupação, afinal não gostamos de ver pessoas que amamos sofrendo, mas conforme diz o Proust a sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, a Charlote está num momento só dela, onde acredita estar fazendo a coisa certa e seguindo o coração... quanto a ser virtual ou não, posso te afirmar que o problema não é esse, pois numa certa época de minha vida, depois de passar por uma grande desilusão no mundo real foi uma amizade virtual que me tirou da infelicidade, me deu forças para acreditar que nem todo mundo é igual. O que me preocupa nisso tudo é a baixa auto-estima de nossa amiga, pois sei que enquanto ela não se amar ninguém o fará também. A segunda coisa que preciso dizer é a Charlote:

Amiga, vc é linda, de um jeito que várias tops não conseguiriam ser, convivo com pessoas cheias de dinheiro e beleza que vivem na base de remédios e tratamentos seríssimos, sabe por que? Felicidade não depende do que temos ou aparentamos, ela está dentro de cada um de nós, claro que ter dinheiro e boa aparência num país como o nosso ajuda bastante, mas não assegura a felicidade. Quanto ao seu relacionamento virtual, só vc pode saber até que ponto isso vai continuar, se te faz bem, ok!...mas do contrário, porque continuar fazendo o que o Freud disse em 1920, renunciando a felicidade? Já agi assim diversas vezes, fiz várias renúncias por encontrar pessoas babacas e acreditar que todo mundo é igual, ou porque se achar feia quando os maiores ícones da beleza não foram tão felizes como acreditamos que deveriam?

Posso dizer para vc que se não nos amarmos não seremos capazes de amar mais ninguém, e outra coisa, a felicidade está dentro de cada um de nós, entretanto, precisamos deixá-la aflorar... Se vc encontrou pessoas más, mentirosas, eu e mais um monte de pessoas já encontramos também, existem sim homens e mulheres "babacas", mas existem tb milhares de pessoas legais, só precisamos nos dar a chance de conhecer estas pessoas... Não deixa que o medo atrapalhe sua felicidade!

Adoro vc, torço que sábado te encontre mais feliz, afinal iremos comemorar minha formatura, certo? rsrs

Beijos

Mavie

Hoje deixo especialmente para Charlote esse lindo poema do Chaplin...

"Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... AUTO-ESTIMA.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...AUTENTICIDADE.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... AMADURECIMENTO.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... RESPEITO.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... AMOR PRÓPRIO.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... SIMPLICIDADE.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... HUMILDADE.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... PLENITUDE.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... SABER VIVER!!!"

Charles Chaplin 

domingo, 11 de janeiro de 2009

O caminho escolhido...



O escritor francês Marcel Proust diz que a sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.
A cada dia percebo que esta é uma das maiores verdades que já ouvi, entretanto, sou obrigada a dizer que existem milhões de pessoas que percorrem diversos caminhos, perigosos, sombrios, solitários e no fim parece que nada aprendem, caminharam olhando unicamente numa direção, para si próprias...
Claro que até pouco tempo atrás eu percorria o meu caminho, entre sonhos, vaidades, medos, amores, certezas incertas, “achismo”, enfim, eu acreditava que sabia de tudo e é com imensa felicidade que lhes digo que hoje fiz uma grande descoberta, compreendi que sei pouco da vida, ou quase nada, mas estou olhando a minha volta, tentando aprender a aprender... Entre um episódio e outro de minha caminhada conheci a Becki, uma garota brilhante, cheia de carinho, amores (seus gatos, cachorros e seu amado marido) e uma alegria de viver que contagia... é impressionante como uma mulher de 25 anos consegue passar tanta sabedoria e sarcasmos com tanta eficiência...rsrsrs... digo sarcasmo porque ninguém é perfeito,neh? rs...
Trabalhar com essa garota fantástica que brinca o tempo todo, respeita tudo e a todos me fez chegar a conclusão que muitas pessoas não estão preparadas para aqueles que só sorriem e que amam a vida. Muitos se incomodam com a felicidade alheia e com os seus caminhos escolhidos - como assim? Por que as pessoas “paz e amor” são tomadas como retardadas, lentas e fracas? Quer dizer que boas são aquelas malandras, desonestas e hipócritas? Que destroem a si mesmas e aos outros para atingirem suas metas? O amor e as amizades despretensiosas estão perdendo o lugar para a ganância? Será que Roberto Shinyashiki está correto ao afirmar que a luta pela sobrevivência está brutalizando o ser humano?
Ok, concordo que vivemos num mundo altamente competitivo, mas acredito também que podemos alcançar nossos objetivos sem precisar puxar os tapetes dos outros e acima de tudo, valorizar pessoas como a Becki, que vivem na paz e no amor, que esperam da vida mais que boas posições sociais e dinheiro.
Agora, neste instante, ouço Chopin e me pergunto se ao compor estas músicas tão lindas ele pensava em algo além do amor, claro que poderia estar sofrendo também, afinal, como diz o Proust a felicidade é salutar para o corpo, mas só a dor robustece o espírito, enfim, uma coisa é certa, ninguém pode viver sem a paz e o amor, digo viver, não sobreviver...
O mais importante é que temos opções... O caminho quem escolhe somos nós!

Mavie

Hoje despeço-me com um poema que adoro...


"O Caminho não escolhido"Robert Frost, 1916
Num bosque amarelo dois caminhos se separavam,
E lamentando não poder seguir os dois
E sendo apenas um viajante, fiquei muito tempo parado
E olhei para um deles tão distante quanto pude
Até onde se perdia na mata;
Então segui o outro, como sendo mais merecedor,
E tendo talvez melhor direito,
Porque coberto de mato e querendo uso
Embora os que por lá passaram
Os tenham realmente percorrido de igual forma,
E ambos ficaram essa manhã
Com folhas que passo nenhum pisou.
Oh, guardei o primeiro para outro dia!
Embora sabendo como um caminho leva para longe,
Duvidasse que algum dia voltasse novamente.
Direi isto suspirando
Em algum lugar, daqui a muito e muito tempo:
Dois caminhos se separaram em um bosque e eu...
Eu escolhi o menos percorrido
E isso fez toda a diferença.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Começou...


Quando falei para “mainha” há três anos e meio atrás que viria estudar no Rio de Janeiro ela quase teve um ataque, sem contar que meus irmãos me aterrorizaram muitoooooooo, falaram sobre tudo, assaltos, balas perdidas, à distância deles, sobre meu medo de ficar sozinha e várias outras coisas... confesso que depois de tudo acertado quase desisti, bateu aquele “medo” do desconhecido... Enfim, aqui estou, muito tempo se passou, me formei, não fui assaltada graças a Deus, mas a distância incomoda muitas vezes, entretanto ela me mostra o quanto é importante ter uma família pra amar e ser amada.
Quem me conhece de “verdade” sabe o quanto sentimental sou... rsrsrs... e o quanto viver aqui me fez olhar ao meu redor. Como a maioria de meus amigos deve saber, no período em que estudava trabalhei numa loja, três anos, ouvindo as histórias das mulheres mais loucas, divertidas, inteligentes, tristes, solitárias, ou seja, histórias de vidas.
Durante todo este tempo, aprendi com muitas delas, fiz amizades que com certeza serão eternas e meio a tantas histórias, algumas realmente me surpreenderam. Hoje atendi uma senhora paulista super carinhosa, ela comprou algumas roupas, conversou muito comigo e depois de muito tempo foi embora, ouvi outras histórias, sorri com mais algumas, quando perto do final do expediente aquela senhora paulista voltou, me disse que queria trocar uma peça, falei que não tinha problema e que faríamos isso juntas. No meio do atendimento ela me pediu um abraço, disse que tinha gostado muito de conversar comigo, que se sentia muito sozinha e adoraria ter alguém para conversar nestes dias, quase chorei, percebi que às vezes um abraço é algo muito precioso; sem demora a abracei e percebi que ela tremia, me perguntei – Por que essas coisas acontecem comigo? Já sou uma sentimental por natureza, não gosto de ver ninguém sofrendo...
Enfim, ela me pediu desculpas por estar tão triste, me disse que há pouco tempo tinha perdido seu marido e que comprar algo hoje não tinha graça, pois sabia que ele não estaria em casa esperando-a, falou também que teve um casamento perfeito e que sempre sentiria falta dele. Lembrei-me de Dona Ana, de minha mãe, minha avó e de tantas outras mulheres que casaram, amaram e se separaram, vi que não existe fórmula para um bom casamento, mas existe a solidão, a falta de um abraço...
Quando parei numa livraria há pouco me deparei com uma poesia do Quintana onde ele dizia:

"A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas".

Adorei, até pensei no e daí? O que faço agora? Tenho o que preciso? Por que não jogo os meus medos pela janela e sigo em frente?
Só vem uma certeza, a vida é caixa de surpresas onde encontramos frutos que em algum lugar do passado semeamos, um bom começo é distribuirmos abraços, pois há muitas pessoas neste mundo precisando deles, mas não qualquer abraço e sim aquele "abraço".
Então começo este ano de 2009 desejando muitos abraços para todos, muito amor...
E que não se deixem reprovar, nem esqueçam do relógio...
...O tempo passa...

Mavie