domingo, 26 de setembro de 2010

Desassossego




“A quem, como eu, assim, vivendo não saber ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino”?
Pessoa


Assim, como eu sei que tenho a vida, me perco diante da contemplação do meu destino. E assim, por não conseguir renunciar meus incontáveis eus, deparo-me com a certeza de que apesar de tantos nada sou.

...então resolvi mergulhar no mundo de Pessoa, claro que um mergulho raso, muito raso, afinal, se mergulhasse um pouquinho mais começaria a perder o que me resta de inconsciência, e assim, como ele, poderia cair na decadência, na distancia de tudo...
Em seu Desassossego, Pessoa dizia que a inconsciência era o fundamento da vida. Na primeira vez que li esta frase o achei um tanto excêntrico, na segunda, imaginei ser um desassossegado, na terceira, tive certeza que ele era uma alma consciente, viva... e eu, quanto mais leio suas linhas e as de outros tantos, vejo minha inconsciência indo, indo... e assim, me vejo excêntrica, desassossegada, consciente.

Um amigo me disse que só escrevemos quando estamos meio desassossegados, e o Dostoiewski dizia que para escrever bem é preciso sofrer, sofrer... No entanto, acredito que não é só isso, olhar em volta, sem inconsciência traz palavras... Pensar no ter e não ter traz versos... Pensar no amor de alguns e desamor de milhares traz textos.

A compreensão profunda de estar vivendo e de não saber até quando me limita. O fato de estar vivendo enquanto outros morrem me tira o sossego. A certeza de viver a minha vida consciente agindo tantas vezes como inconsciente me diminui. No meu desassossego sinto falta de inconsciência.

Mavie