quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Theo...

Era meia noite, todos felicitavam uns aos outros, eu sentia a falta de minha família e do Marc, mas estava feliz, incompleta, mas feliz... quando de repente o Theo começou a chorar (uma linda criança de 4 anos), ele dizia que papai Noel não foi visitá-lo e que estava muito triste por isso. A Manu explicou que enquanto ele abraçava sua avó o papai Noel foi lá deixar o seu presente, tinha várias outras crianças para visitar, sendo assim não conseguiu esperá-lo. Claro que esta a quem vos escreve começou a chorar também, rsrs, e óbvio que a sensibilidade do Theo trouxe a tona uma série de questionamentos. Por que ao longo de nossas vidas nos tornamos tão insensíveis? Por que somos tão míopes diante da vida? Por que deixamos o lado mais bonito, em minha opinião, da criança que há em nós esquecido no fundo do nosso inconsciente?
Platão disse que uma vida não questionada não merece ser vivida, acreditem, não tenho pretensão de dar lição de moral a ninguém, mas choca-me a insensibilidade humana diante do próximo.
Nesta noite de Natal agradeci a Deus por ter uma família saudável, feliz e obviamente “enlouquecida” às vezes... No entanto, não dava para esquecer que tudo está por um fio, sempre... que o amanhã é incerto para todos e que naquele momento, a Mel estava no hospital com sua mãe, mãe esta que ama a vida e luta por ela desde sempre.
A todo instante deparo-me com pessoas sem tolerância alguma e conseqüentemente sem amor ao próximo, claro que não estou sugerindo que todos deviam sair se abraçando e blá, blá, blá... Acredito sim, que se nos pusermos no lugar do outro, questionarmos mais nossas ações, no que fizemos de bom e ruim ao longo do dia, e tentarmos, de alguma forma, sermos melhores no dia seguinte, o mundo poderia acordar melhor também.


Inté...

domingo, 26 de setembro de 2010

Desassossego




“A quem, como eu, assim, vivendo não saber ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino”?
Pessoa


Assim, como eu sei que tenho a vida, me perco diante da contemplação do meu destino. E assim, por não conseguir renunciar meus incontáveis eus, deparo-me com a certeza de que apesar de tantos nada sou.

...então resolvi mergulhar no mundo de Pessoa, claro que um mergulho raso, muito raso, afinal, se mergulhasse um pouquinho mais começaria a perder o que me resta de inconsciência, e assim, como ele, poderia cair na decadência, na distancia de tudo...
Em seu Desassossego, Pessoa dizia que a inconsciência era o fundamento da vida. Na primeira vez que li esta frase o achei um tanto excêntrico, na segunda, imaginei ser um desassossegado, na terceira, tive certeza que ele era uma alma consciente, viva... e eu, quanto mais leio suas linhas e as de outros tantos, vejo minha inconsciência indo, indo... e assim, me vejo excêntrica, desassossegada, consciente.

Um amigo me disse que só escrevemos quando estamos meio desassossegados, e o Dostoiewski dizia que para escrever bem é preciso sofrer, sofrer... No entanto, acredito que não é só isso, olhar em volta, sem inconsciência traz palavras... Pensar no ter e não ter traz versos... Pensar no amor de alguns e desamor de milhares traz textos.

A compreensão profunda de estar vivendo e de não saber até quando me limita. O fato de estar vivendo enquanto outros morrem me tira o sossego. A certeza de viver a minha vida consciente agindo tantas vezes como inconsciente me diminui. No meu desassossego sinto falta de inconsciência.

Mavie

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Enquanto ficamos...




Atordoada com tantas “obrigações”, Pós-graduação (que estou amando), trabalho pesado, curso de francês, esportes, estava me sentido esgotada, claro que tem o Marc, meu porto seguro, o que me impede de ir embora pra Pasárgada...rsrs...
Caminho, ouço, paro - parecia que eu não mais cabia em mim, estava cheia de sentimentos – me derramava... Comecei a pensar que tudo o mais eram detalhes, exceto o ser, aquele que vive - me sentia, estava ali, viva. Isso me trouxe de volta, percebi que faltava muito de eu mesma na minha vida, não sei se foi no momento em que ouvia junto a milhares de pessoas a Sinfonia n.º 9 (Beethoven) na praia de copa abraçada ao Marc, ou quando assitia embevecida o filme A Partida, Okuribito – Japão, 2008. O fato é que estando ali eu também queria estar aqui, para eternizar nestas linhas aqueles momentos.
Eu inteira, juntando as partes deste quebra-cabeça que é minha vida. Eu, procurando os detalhes que tornarão ela mais bonita, mais mágica... EU QUERO MÁGICA!!!! Toco minhas mãos, o meu rosto, meu corpo, percebo-me, estou viva e vc também, já pensou nisso? Amanhã seremos pó, então toca-te. Sente a música, porque enquanto aqui ficamos outros estão partindo sem se tocar, sem perceber a quem ama, sem ver a mágica vida que é nossa.

O verdadeiro ato de descoberta consiste não em encontrar novas terras, mas em ver com novos olhos.
- Marcel Proust

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um pouco mais de amor...



...então assisti “ Estamira”! E de repente minha alma ficou nua, dela transbordaram todos os sentimentos - vergonha, dor, amor, raiva, medo, culpa, admiração...
Acredito que quanto mais vivo mais me sinto incapaz, vulnerável, perecível...Aqui, na Cidade Maravilhosa encontramos milhares de “ Estamiras”, mulhers e homens que encontram no lixo uma possibilidade de sobrevivência. Por todos os lados enxergamos, se quisermos, a dor social que nos cerca.
“O filme Estamira revela antes de mais nada o respeito à escuta do outro, do diferente, do estranho. Estranho que, entretanto, nos é familiar de alguma forma. Como não admirar - e concordar - com a frase dita por uma doente mental crônica segundo a qual "não existem mais ´inocentes´, mas sim ´espertos ao contrário´”? (Por LUIZ FERNANDO GALLEGO).
Isso me lembra uma frase constante de minha vida – Alongar o olhar. Penso que quanto mais faço isso me entristeço, oras, enxergar adiante é ver um mundo cheio de complicações, onde a paixão pela imagem, poder e dinheiro nos torna um bando de desconhecidos e egoístas, buscando falsas impressões, onde a fraternidade passa longe e o amor está cada vez mais sendo colocado de lado. Até onde precisamos ir para nos encontrarmos? Confesso que a “liquidez” do mundo me apavora e quanto mais alongo meu olhar mais sinto medo, não sei se tenho a força de Estamira láaaaaaaaa no fundo, também não posso julgá-la pelas palavras duras durante todo o documentário, mas com certeza não a chamaria de louca, longe disso, depois de ouvi-la percebi que somente quem vive determinada situações pode falar a respeito das mesmas...
Senti tudo, ou melhor, quase tudo, chorei copiosamente e percebi que diversas vezes “choro de barriga cheia”,percebi que tem mais coisas por aí a fora, vida, morte, medo, pavor, solidão, destruição, tem gente que vive de lixo! Tem gente que vive de mentiras! Tem gente que vive do nada...
Assim me pergunto - O QUE NOS FAZ FELIZ? O que é a felicidade? Posso falar que alongando meu olhar vejo coisas boas também, posso ver soluções. Precisamos vencer o preconceito em suas várias faces, o mal e a nós mesmos. Aqui, habitam várias Mavies, amorosa, briguenta, sensível, carente e mais uma infinidade de coisas, o tempo, as ações e reações liberam Mavies por aí, mas eu tenho o controle, não posso culpar ninguém por minhas ações e vc? Como anda o seu controle? Afinal, a própria Estamira diz: “tudo que é imaginário tem, existe, é”. Então podemos mudar muita coisa, basta querermos.

Mavie


" E bem podemos suspirar aliviados ante o pensamento de que, apesar de tudo, a alguns é concedido salvar, sem esforço, do torvelinho de seus próprios sentimentos as mais profundas verdades, em cuja direção o resto de nós tem de encontrar o caminho por meio de uma incerteza atormentadora e com um intranquilo tatear".

O Mal-Estar na Civilização (Sigmund Freud).

domingo, 21 de junho de 2009

O espaço entre nós...



Dormi pensando, como todos os dias, em você
...aquela sensação de que faltava algo ao meu lado persistia,
Percebi que se penso sou metade, se não penso sou vazio...
Neste instante sou inteira, escrevo-te toda inteira.
Claro que talvez não se veja aqui, por alguma razão estás aí.
Pode me responder uma coisa? Por que me perco quando te vejo? Posso fazer outra pergunta? - Por que fico assim depois que te falo tanta bobagem?
Sabe o que lembrei agora? Linhas de um livro da Clarice Lispector – “Ouve-me, ouve o silêncio. O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão”.
Será que seria difícil fazer isso? Assim, se eu te falar não é, mas quando te olho, pode ser... Dá pra entender? Só não esquece que não sou linhas...
Você me confunde, este teu sorriso me alegra, irrita, entristece-me... De repente veio aquela sensação de “solitude”... Ah, isso somente você entenderá, não é? Esse segredo é nosso...
Tentei apagar suas fotos, não consegui, será que estou doente? Não ri, nem pensa que estou ficando maluca, ou melhor, pensa sim, decidimos por unanimidade que sou doida, lembra? Preferia estar falando sobre outra coisa agora, mas a minha cabeça dá voltas e onde pára se depara com você. Pode me deixar um instante? Descobri que sendo te magoou, não posso ser quem tu queres, sou EU, aquela, que fala o que sente e se arrepende no próximo instante. Somos tão diferentes... Lembro que me falou isso hoje, lembro de tudo que me falas, inclusive do espaço entre nós dois...
Acordo e vou para nossa janela, e lá vem você, como se nada houvesse acontecido. O que é preciso fazer para te tirar do sério? Grita, diz que não quer mais me ver, pois eu não consigo fazer isso sozinha. Perdi aquilo que dizem ser “a palavra”. Ok! Admito, estou em profunda desordem, a sua organização me exaspera. Neste momento não sei de nada, só que estou meio, ou completamente perdida e consciente cada vez mais do espaço entre nós.



Mavie

domingo, 31 de maio de 2009

A terra do encantamento...



Encantar
v.t. Exercer suposta influência mágica. / Seduzir; cativar; fascinar: encantar serpentes. / Agradar extremamente. / Provocar irresistível admiração: encantar um auditório. / Causar satisfação; agradar profundamente: estou encantado com o encontro (Aurélio).

Quando eu tinha uns doze, treze anos, lembro-me que ficava encantada com as flores do jardim de minha casa e mais ainda quando dançava na chuva com meus irmãos e minha prima Elaine. Acho que mais encantada que isso fiquei a partir dos catorze, quando passei a ler todos os romances possíveis, Júlia, Sabrina, Bianca, etc. nossaaaaaa, com certeza passaram dos dois mil livros, ler aquelas estórias românticas me deixava extremamente encantada, aguardava ansiosa o meu príncipe “encantado”... rsrsrs.
A partir de então foram vários encantos e desencantos, mesmo quando não parava para pensar sobre a força e significado desta palavra – ENCANTAR.
Comecei a pensar nela depois de me encantar com as histórias de um amigo, quando ele me contava sobre a sensação do vento em seu rosto ao sair de moto sem rumo pelas lindas montanhas de sua região, sobre sua vida e seus desejos, etc. nossas conversas me encantavam, até que um dia me vi completamente “encantada” por ele. Entretanto, um dia o mesmo veio me falar de alguém (que não era eu) que o estava encantando, daí veio meu desencanto, como um jato de água fria, mas não como aquela chuva que me encantou um dia, e sim como um vento triste que vem e fica... Eu não mais o encantava, sofria...
Em vez de alongar meu olhar fiz o contrário, não queria enxergar nada além de minha dor, parei de ler os sinais do tempo, o encanto que estava em toda parte eu não mais o via... Peguei todos os desencantos ao longo dos anos e criei uma blindagem que inevitavelmente cegou-me... Abri várias portas, família, amigos, livros, poesias, dores, histórias, estórias, conversas, vidas... Voltei!!!! Deixei-me enxergar outros encantos, percebi que a vida é assim, E HOJE EM PAZ COM A VIDA, entrego-me a outros encantos... Hoje tem os teus olhos, o teu sorriso, este sorriso meio de canto, tímido, sonhando com os sucos de maracujá... rsrs...hoje tem você, que me encanta.
Dedico este texto a todos que me encantaram e encantam nessa vida de encantos...

Mavie

“Pe. Fábio de Melo diz que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza. Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também. Precisamos descobrir que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida que nos empenharmos em não reter a vida (...). Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes”.

domingo, 17 de maio de 2009

Infinitas possibilidades...




“ Uma outra circunstância ainda me atormentava sem cessar: verificava que não me parecia com ninguém e que ninguém se parecia comigo. “Eu sou sozinho, enquanto que eles, eles são todos!”, dizia-me; e punha-me a refletir.”
Dostoievski

Há dias como hoje, longe de chegar perto do Dostoievski, tento chegar próximo ao abismo da minha alma. Procuro entender este emaranhado de sentimentos, ora inebriados de felicidade, ora imersos numa profunda solidão, procuro-me... Talvez por conta desta eterna busca acho-me um pouquinho todos os dias, perco-me noutros.
Acabei de conversar com uma amiga, onde ela falou sobre a eterna busca do seu eu, dúvidas sobre o querer, amar, futuro, etc. Claro que o fato de estar na casa dos 30 a entristece mais ainda, ela acredita estar perdida, sem soluções. O que dizer a alguém que sofre tanto tentando encontrar-se? Que vivo também de dúvidas, que somos organicamente “perdidos”? Enfim, depois de conversarmos horas a fio percebi que me perdi um pouco mais...rs
Dia desses estava tendo um papo cabeça com meu querido amigo Hugo quando falei para ele que estava com medo do que as pessoas estavam fazendo com o mundo. Acho que estava num momento deprê, ou sedenta de respostas... sei lá, mas a verdade é que realmente me preocupa as reações do “todo”. Vivemos num bate e volta, agredimos, somos agredidos, erramos, descontamos nossas “decepções” em outras pessoas que talvez não mereçam... somos injustos e injustiçados a todo momento e além de tudo, precisamos cuidar para não nos “perdermos” nessa vida de desencontros.
Nesta semana o Rossi me perguntou se eu havia encontrado a minha poesia, rsrs, respondi que não, mas pensei seriamente sobre o assunto, e percebi que a encontro todos os dias, quando vejo minha família, ou mesmo com um telefonema, quando converso sobre as mais loucas histórias com os meus colegas de trabalho, quando chego em casa e me deparo com as melhores amigas que alguém pode ter, ou seja, a minha vida é uma poesia. Acredito que a resposta para todas as perguntas está diante de cada um de nós, basta querermos enxergá-las, concorda? Ou vivermos na eterna ignorância do ser.
Hoje as 18:00 eu, a Anna e a Cris fomos andar na praia, de alguma forma aquilo me chamava, sentia sede do mar, da brisa, e quando menos esperávamos estávamos tomando banho de roupa sob uma lua linda, acredito que quem passava naquele momento devia pensar que estávamos embriagadas, CONFESSO - eu estava embriagada de poesia - aquele mar, aquela sensação de paz me fez até acreditar que tinha voltado a ser criança...rsrsrs, escolhi ser feliz, escolhi sair de minha toca e tocar o mundo.
Pensei na perda de tempo ao me irritar com bobeiras, em sonhar com pessoas que nada acrescentariam em minha vida e não me trariam a poesia que tanto amo, pensei em estar viva, pronta para ganhar o mundo, como ainda hoje me disse o Emmanuel...
Hoje me despeço de vocês deixando um conselho, olhem a sua volta, a poesia esta em todos os lugares.
Mavie
P.S. Deixo também este lindo poema...

“Quando o ardor da minha palavra persuasiva do abismo obscuro do erro retirou tua alma, profundamente degradada, e quando, cheia de uma dor atroz, torcendo os braços, maldisseste o vício que te havia fascinado, quando a tua consciência castigando, à existência passada renunciaste, e escondendo em tuas mãos teu rosto, de repente, cheia de horror e de vergonha, tu choraste…”

Nikolai Nekrássov