sábado, 23 de agosto de 2008

Nas ruas por onde ando...

O Rio de Janeiro continua lindo e me surpreendendo... sua beleza, a liberdade das pessoas que aqui moram, as histórias que ouço... “aqui nada se perde, com tudo se aprende”. Desde que vim morar em Ipanema, há dois anos, vejo várias cenas que se repetem, os mesmos flanelinhas, aquela mulher branca de lindos olhos azuis, com mais ou menos 50 anos e seus dois cachorros magrelos que fala sozinha e mora nas ruas do bairro, o menino da esquina e seus desenhos maravilhosos, e entre tantas outras, vejo também uma senhora de mais ou menos 80 anos, meio cega, que anda lentamente até o mercado Zona Sul de nossa rua, enfim, sempre que a via sentia um aperto no peito, ela me parecia tão indefesa andando sozinha que um dia me aproximei oferecendo ajuda com as compras, ela gentilmente recusou, disse que estava acostumada e não necessitava de ajuda, pois ela fazia isso todos os dias; algo me fez insistir, falei que ia na mesma direção à dela e gostaria muito de ajudá-la, então ela segurou muito forte o meu braço e começamos a andar muito lentamente até o seu prédio que fica a 20 metros do meu, conversamos muito, fiquei sabendo que seu nome é Tony, que ela anda por toda Ipanema, pois não quer parar e não gosta de ficar presa em casa, precisa andar p se exercitar... não sei pq, mas qdo a deixei em frente ao seu prédio senti um nó na garganta, uma sensação de pesar e uma preocupação enorme com aquela senhora andando sozinha. Bom, depois disso passamos por coincidência, a nos encontrar sempre, ela me abraça e andamos devagar até o seu prédio, desde então ela me contou várias coisas, entre elas que adora pegar um ônibus e dar uma voltinha pelo Rio... Noooooooooossaaaaaaaaaaaaaaa, não saberia dizer p vcs o que me toca mais nela, se são os seus olhos doces qdo me olha, sua força interna, ou quem sabe as coisas lindas q me fala, conhecer Tony foi um presente Divino, ela me faz enxergar a vida de outra forma, me deixa com vergonha de ter sentido medo em situações tão simples, pq ao olhar para ela, imagino o quanto de coragem deve precisar para sair de casa todos os dias, quase cega, e andar sozinha numa das cidade mais violentas do mundo.
Um dia desses, voltei a encontrá-la, chamei-a e ela respondeu com um – Meu anjo, onde vc estava? nunca mais a encontrei - Vem cá, deixa eu te dar um beijo – claro, quem me conhece sabe que meus olhos se encheram de lágrimas, sou uma boba p chorar, rs, então respondi q estava estudando muito e qse não tinha tempo p nada, peguei sua sacola e começamos a andar, nisso ouvimos alguém chamá-la de mãe, olhei surpresa p trás e me deparei com aquela mulher branca de lindos olhos azuis com mais ou menos 50 anos que eu acreditava ser uma moradora de rua com seus dois cachorros magrelos e fala sozinha, então a Tony me apresentou a ela dizendo ser sua filha, falou q estava tudo bem e que iria com sua amiguinha, “eu”, até a porta do prédio, a mulher de lindos olhos nos deixou e seguiu falando sozinha... FIQUEI CHOCADA, tinha certeza q ela era uma mendiga, me senti péssima por julgar antecipadamente e pela senhora q segurava meu braço... qdo sua filha se afastou, Tony me olhou bem nos olhos e pediu p cuidar-me, não entendi a frase e perguntei o q ela queria dizer, ela me aconselhou a correr atrás dos meus sonhos, viajar, respeitar as pessoas a minha volta, e acima de tudo “tomar conta de mim”, pois um dia a filha dela tinha tido tudo, beleza, dinheiro, fama, tinha sido Miss Guanabara e agora era esquizofrênica... O porquê disso tudo eu não sei, mas entendi o q ela quis dizer. Hoje a vejo bem pouco, mas de alguma forma esta senhora, que anda lentamente pelas ruas de Ipanema, mãe da linda mulher de olhos azuis, marcou a minha vida para sempre...


Maviane Motta

5 comentários:

Carrie B disse...

Nossa amiga, me comoveu!!

Adriana Meira disse...

Meu Deus!Q coisa linda!!!!A mãe tão forte e a filha pirou pq n aguentou perder.Beleza, fortuna,fama...e Tony se mantém força e beleza...
entedi "se cuidar" em "cuidar do espírito"...sábia mulher...pq ninguém está livre da loucura...nem nós q somos "sãs".Gostei muito,Mavie...continue escrevendo!Parabéns!

Annanda Galvão disse...

lindo!

Unknown disse...

Muito comovente, me fez refletir e pensar muito que não estamos sós neste mundo, que há muito exemplos de coragem e força de vida mais perto do que imaginamos, que não precisamos buscar nos livros para encontrar pessoas exemplares... simplesmente adorei

Mari Bahana disse...

Tinha lido este texto na semana em que o postou, no ano de 2008. Virava e mexia parte dessa história vinha à minha mente, mas sempre que eu lembrava, estava longe do computador. Hoje lembrei-me dela, e resolvi lê-la novamente... Recarreguei minhas baterias.
Beijos querida e nunca pare de escrever.