Ainda estava pensando em ir embora pra Pasárgada quando encontrei Dona Ana, uma mulher de 71 anos, mãe de três filhos e dona de uma alegria de viver contagiante. Eu, ela e mais duas amigas falávamos sobre roupas e festas quando, não sei por qual razão ela disse que estava completando 54 anos de casada. Claro que saiu um sonoro, nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! Eu e minhas amigas iniciamos uma verdadeira entrevista com essa senhora, saíram as mais loucas perguntas, até que a Paty virou para ela e disse – Que maravilha... 54 anos de casada, meus parabéns!!!
- Parabéns coisa nenhuma querida – disse dona Ana, devia ter me separado quando completei 30 anos... Perguntamos em uníssono - Por quê?
- Porque eu devia ter começado tudo novamente. Tive a chance de reiniciar minha vida, mais jovem e com outro pensamento, ou melhor, com outra cabeça.
Claro que inclinada como sou ao romantismo tornei-me a questionadora principal deste “romance mais ou menos feliz” e fiquei sabendo para minha tristeza que a menos de um ano ela descobriu que seu amado marido, aos 83 anos, arranjou uma namorada e que pensava numa separação imediata com ela.
Depois de ameaças, brigas e lágrimas seus filhos o convenceram a desistir dessa idéia, além de jogar no lixo tudo que construíram, eles teriam que depois da divisão dos bens, morarem em lugares menores e menos confortáveis... Enfim, ela o mandou sair de seu quarto e passou a viver como não vivia há muito tempo. Festas com um grupo da terceira idade, viagens, noitadas animadíssimas no Rio Scenarium e uma vez ou outra no Clube das mulheres, rsrsrs... Essa até eu babei... rs... Disse-nos que não saia mais vezes por suas amigas não terem o mesmo pique que ela.
Orgulhei-me dessa senhora e como num filme, me vi várias vezes arrasada com o fim de relacionamentos, em que pensei estar sem chão por ter perdido aquele que julgava ser o meu “amor”... Ouvi tudo aquilo sem respirar, parecia um conselho impagável – Vivam - dizia ela, não se acomodem com o agora, queiram mais, divirtam-se mais... Claro que esta diversão de Dona Ana não inclui novos relacionamentos, embora tenha admitido que um Senhor “chegou” junto a ela numa dessas festas, este recebeu um não e a deixou em paz...rs, ela queria mesmo era curtir a noite, dançar!!!!
- Ainda não tenho essa coragem, busco outra coisa agora, talvez depois queira outra pessoa em minha vida, mas agora não - respondeu D. Ana.
Eu e as meninas, mesmo depois que essa senhora foi embora, ficamos horas nos comparando a ela. Pensei em minha mãe que aos 40 anos quando se separou de meu pai desistiu de relacionamentos e passou a viver o sonho de seus filhos; pensei também nas palavras de minha avó, que acredita ter morrido com meu avô quando este se foi e pede todos os dias para ir ao seu encontro... Penso nos olhos de meu pai, depois desses 12 anos de separação, parecem pedir desculpas e demonstram uma tristeza quase doída quando olha nos nossos olhos.
Penso numa infinidade de amigos e amigas que estão com o coração partido, como numa roda viva, amando, sofrendo, sorrindo, chorando, aprendendo... Tenho medo nessas horas, medo de não ter uma Dona Ana dentro de mim... Medo de aceitar o agora sem me perguntar se é isso que preciso e quero, e pior, medo de não perceber o que quero de verdade.
Mavie
Um comentário:
Não lhe disse que as pessoas não passam?
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