sábado, 8 de janeiro de 2011

Tão sua...


Aqui tudo está desorganizado, parece que te esperando...sei lá... então lembrei de um texto da Clarice, é, aquela que vc acha confusa...

“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar. Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?”

A diferença entre nós duas é que não perdi a minha terceira perna, na verdade acabo de percebê-la mesmo estando sem ela. Estranho, neh? Preciso te dizer que não agüento tantos dias sem teu amor, perco-me! E ao tentar me achar descubro que cada vez sou menos minha e mais tua. E me vendo mais tua sinto que não dá para andar sem minha terceira perna...
Olho para os lados e vejo o quão bagunçada está minha vida, esses vinte dias mais parece vinte décadas, mas não diz que sou exagerada, no fundo também acho, mas gosto de bancar a esquecida, assim esqueço que estas longe e eu sem uma perna.
Aqui tudo está desorganizado, te esperando, quase não ando. Os livros estão espalhados e a corrida parada. Te esperando...

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E se fosse verdade?


"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

Friedrich Nietzsche

Uaaaaaau! Para Nietzsche estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente, e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias e muito mais...
Mais um ano se inicia, então escolhi o Nietzsche para responder algumas de minhas eternas perguntas... Passei um final de ano, como sempre, super cheio de trabalho + uma pós graduação que não páraaaaaaaaaaaa... O Marc foi para Paris, entretanto não pude ir gastar meu suado dinheiro com ele...rsrsrsrs... Minha família se reuniu na Bahia e eu também não fui – perdi a comida de mainha e a leveza de tê-los comigo. Passei algumas horas no hospital, um breve retorno ao pânico de estar só...Oras, vivi meus dias intensamente... e como!!!! Então respondo que Sim! Quero isto inúmeras vezes, adoro cada parte de minha vida. Amo cada instante que dela brota, e sei, que mesmo se fosse necessário escolher, voltaria a este mesmo ponto. É claro que seria hipocrisia de minha parte dizer que não me deparei com alguns rochedos, afinal eles me tornaram mais forte. O bom disso tudo é que aprendi que a minha paz não está em algo ou alguém, e sim aqui, comigo. O esquecimento intimida, mas somente quando me deixo esquecer do que realmente importa - o mundo gira, e de repente, pode haver o retorno.

E vc? Quer isto ainda uma vez e inúmeras vezes?...rsrs

Mavie

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Theo...

Era meia noite, todos felicitavam uns aos outros, eu sentia a falta de minha família e do Marc, mas estava feliz, incompleta, mas feliz... quando de repente o Theo começou a chorar (uma linda criança de 4 anos), ele dizia que papai Noel não foi visitá-lo e que estava muito triste por isso. A Manu explicou que enquanto ele abraçava sua avó o papai Noel foi lá deixar o seu presente, tinha várias outras crianças para visitar, sendo assim não conseguiu esperá-lo. Claro que esta a quem vos escreve começou a chorar também, rsrs, e óbvio que a sensibilidade do Theo trouxe a tona uma série de questionamentos. Por que ao longo de nossas vidas nos tornamos tão insensíveis? Por que somos tão míopes diante da vida? Por que deixamos o lado mais bonito, em minha opinião, da criança que há em nós esquecido no fundo do nosso inconsciente?
Platão disse que uma vida não questionada não merece ser vivida, acreditem, não tenho pretensão de dar lição de moral a ninguém, mas choca-me a insensibilidade humana diante do próximo.
Nesta noite de Natal agradeci a Deus por ter uma família saudável, feliz e obviamente “enlouquecida” às vezes... No entanto, não dava para esquecer que tudo está por um fio, sempre... que o amanhã é incerto para todos e que naquele momento, a Mel estava no hospital com sua mãe, mãe esta que ama a vida e luta por ela desde sempre.
A todo instante deparo-me com pessoas sem tolerância alguma e conseqüentemente sem amor ao próximo, claro que não estou sugerindo que todos deviam sair se abraçando e blá, blá, blá... Acredito sim, que se nos pusermos no lugar do outro, questionarmos mais nossas ações, no que fizemos de bom e ruim ao longo do dia, e tentarmos, de alguma forma, sermos melhores no dia seguinte, o mundo poderia acordar melhor também.


Inté...

domingo, 26 de setembro de 2010

Desassossego




“A quem, como eu, assim, vivendo não saber ter vida, que resta senão, como a meus poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação por destino”?
Pessoa


Assim, como eu sei que tenho a vida, me perco diante da contemplação do meu destino. E assim, por não conseguir renunciar meus incontáveis eus, deparo-me com a certeza de que apesar de tantos nada sou.

...então resolvi mergulhar no mundo de Pessoa, claro que um mergulho raso, muito raso, afinal, se mergulhasse um pouquinho mais começaria a perder o que me resta de inconsciência, e assim, como ele, poderia cair na decadência, na distancia de tudo...
Em seu Desassossego, Pessoa dizia que a inconsciência era o fundamento da vida. Na primeira vez que li esta frase o achei um tanto excêntrico, na segunda, imaginei ser um desassossegado, na terceira, tive certeza que ele era uma alma consciente, viva... e eu, quanto mais leio suas linhas e as de outros tantos, vejo minha inconsciência indo, indo... e assim, me vejo excêntrica, desassossegada, consciente.

Um amigo me disse que só escrevemos quando estamos meio desassossegados, e o Dostoiewski dizia que para escrever bem é preciso sofrer, sofrer... No entanto, acredito que não é só isso, olhar em volta, sem inconsciência traz palavras... Pensar no ter e não ter traz versos... Pensar no amor de alguns e desamor de milhares traz textos.

A compreensão profunda de estar vivendo e de não saber até quando me limita. O fato de estar vivendo enquanto outros morrem me tira o sossego. A certeza de viver a minha vida consciente agindo tantas vezes como inconsciente me diminui. No meu desassossego sinto falta de inconsciência.

Mavie

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Enquanto ficamos...




Atordoada com tantas “obrigações”, Pós-graduação (que estou amando), trabalho pesado, curso de francês, esportes, estava me sentido esgotada, claro que tem o Marc, meu porto seguro, o que me impede de ir embora pra Pasárgada...rsrs...
Caminho, ouço, paro - parecia que eu não mais cabia em mim, estava cheia de sentimentos – me derramava... Comecei a pensar que tudo o mais eram detalhes, exceto o ser, aquele que vive - me sentia, estava ali, viva. Isso me trouxe de volta, percebi que faltava muito de eu mesma na minha vida, não sei se foi no momento em que ouvia junto a milhares de pessoas a Sinfonia n.º 9 (Beethoven) na praia de copa abraçada ao Marc, ou quando assitia embevecida o filme A Partida, Okuribito – Japão, 2008. O fato é que estando ali eu também queria estar aqui, para eternizar nestas linhas aqueles momentos.
Eu inteira, juntando as partes deste quebra-cabeça que é minha vida. Eu, procurando os detalhes que tornarão ela mais bonita, mais mágica... EU QUERO MÁGICA!!!! Toco minhas mãos, o meu rosto, meu corpo, percebo-me, estou viva e vc também, já pensou nisso? Amanhã seremos pó, então toca-te. Sente a música, porque enquanto aqui ficamos outros estão partindo sem se tocar, sem perceber a quem ama, sem ver a mágica vida que é nossa.

O verdadeiro ato de descoberta consiste não em encontrar novas terras, mas em ver com novos olhos.
- Marcel Proust

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um pouco mais de amor...



...então assisti “ Estamira”! E de repente minha alma ficou nua, dela transbordaram todos os sentimentos - vergonha, dor, amor, raiva, medo, culpa, admiração...
Acredito que quanto mais vivo mais me sinto incapaz, vulnerável, perecível...Aqui, na Cidade Maravilhosa encontramos milhares de “ Estamiras”, mulhers e homens que encontram no lixo uma possibilidade de sobrevivência. Por todos os lados enxergamos, se quisermos, a dor social que nos cerca.
“O filme Estamira revela antes de mais nada o respeito à escuta do outro, do diferente, do estranho. Estranho que, entretanto, nos é familiar de alguma forma. Como não admirar - e concordar - com a frase dita por uma doente mental crônica segundo a qual "não existem mais ´inocentes´, mas sim ´espertos ao contrário´”? (Por LUIZ FERNANDO GALLEGO).
Isso me lembra uma frase constante de minha vida – Alongar o olhar. Penso que quanto mais faço isso me entristeço, oras, enxergar adiante é ver um mundo cheio de complicações, onde a paixão pela imagem, poder e dinheiro nos torna um bando de desconhecidos e egoístas, buscando falsas impressões, onde a fraternidade passa longe e o amor está cada vez mais sendo colocado de lado. Até onde precisamos ir para nos encontrarmos? Confesso que a “liquidez” do mundo me apavora e quanto mais alongo meu olhar mais sinto medo, não sei se tenho a força de Estamira láaaaaaaaa no fundo, também não posso julgá-la pelas palavras duras durante todo o documentário, mas com certeza não a chamaria de louca, longe disso, depois de ouvi-la percebi que somente quem vive determinada situações pode falar a respeito das mesmas...
Senti tudo, ou melhor, quase tudo, chorei copiosamente e percebi que diversas vezes “choro de barriga cheia”,percebi que tem mais coisas por aí a fora, vida, morte, medo, pavor, solidão, destruição, tem gente que vive de lixo! Tem gente que vive de mentiras! Tem gente que vive do nada...
Assim me pergunto - O QUE NOS FAZ FELIZ? O que é a felicidade? Posso falar que alongando meu olhar vejo coisas boas também, posso ver soluções. Precisamos vencer o preconceito em suas várias faces, o mal e a nós mesmos. Aqui, habitam várias Mavies, amorosa, briguenta, sensível, carente e mais uma infinidade de coisas, o tempo, as ações e reações liberam Mavies por aí, mas eu tenho o controle, não posso culpar ninguém por minhas ações e vc? Como anda o seu controle? Afinal, a própria Estamira diz: “tudo que é imaginário tem, existe, é”. Então podemos mudar muita coisa, basta querermos.

Mavie


" E bem podemos suspirar aliviados ante o pensamento de que, apesar de tudo, a alguns é concedido salvar, sem esforço, do torvelinho de seus próprios sentimentos as mais profundas verdades, em cuja direção o resto de nós tem de encontrar o caminho por meio de uma incerteza atormentadora e com um intranquilo tatear".

O Mal-Estar na Civilização (Sigmund Freud).

domingo, 21 de junho de 2009

O espaço entre nós...



Dormi pensando, como todos os dias, em você
...aquela sensação de que faltava algo ao meu lado persistia,
Percebi que se penso sou metade, se não penso sou vazio...
Neste instante sou inteira, escrevo-te toda inteira.
Claro que talvez não se veja aqui, por alguma razão estás aí.
Pode me responder uma coisa? Por que me perco quando te vejo? Posso fazer outra pergunta? - Por que fico assim depois que te falo tanta bobagem?
Sabe o que lembrei agora? Linhas de um livro da Clarice Lispector – “Ouve-me, ouve o silêncio. O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão”.
Será que seria difícil fazer isso? Assim, se eu te falar não é, mas quando te olho, pode ser... Dá pra entender? Só não esquece que não sou linhas...
Você me confunde, este teu sorriso me alegra, irrita, entristece-me... De repente veio aquela sensação de “solitude”... Ah, isso somente você entenderá, não é? Esse segredo é nosso...
Tentei apagar suas fotos, não consegui, será que estou doente? Não ri, nem pensa que estou ficando maluca, ou melhor, pensa sim, decidimos por unanimidade que sou doida, lembra? Preferia estar falando sobre outra coisa agora, mas a minha cabeça dá voltas e onde pára se depara com você. Pode me deixar um instante? Descobri que sendo te magoou, não posso ser quem tu queres, sou EU, aquela, que fala o que sente e se arrepende no próximo instante. Somos tão diferentes... Lembro que me falou isso hoje, lembro de tudo que me falas, inclusive do espaço entre nós dois...
Acordo e vou para nossa janela, e lá vem você, como se nada houvesse acontecido. O que é preciso fazer para te tirar do sério? Grita, diz que não quer mais me ver, pois eu não consigo fazer isso sozinha. Perdi aquilo que dizem ser “a palavra”. Ok! Admito, estou em profunda desordem, a sua organização me exaspera. Neste momento não sei de nada, só que estou meio, ou completamente perdida e consciente cada vez mais do espaço entre nós.



Mavie