“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir às nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fechar; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuir; como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade. (Ecles. 12)
Dia desses estava lendo a Bíblia quando este texto me chamou a atenção, não por ser “duro”, mas pela semelhança com o meu dia a dia. Trabalhar com moda, num bairro entusiasta da moda, numa cidade que cultua a vaidade, só me faz perceber que está cada vez mais difícil assumir a velhice. O comércio da aparência humana descobriu o elixir da eterna juventude. Fortunas são movimentadas para prolongá-la o máximo possível, ou pelo menos, a ilusão de que ela é infindável: cirurgias plásticas, academias de malhação, pílulas energéticas e rejuvenescedoras, bebidas revitalizadoras, alimentos dietéticos etc. O que vemos são mulheres e homens recorrendo aos mais diversos tratamentos antienvelhecimentos, ou seja, o que antes representava motivo de orgulho, hoje virou uma vergonha.
Ainda ontem um colega de trabalho fez um comentário que me fez escrever sobre este tema, ele falava sobre a enorme quantidade de idosos do Leblon, e ainda fez uma brincadeira do tipo, por que eles não ficam em casa? Claro que o coitado ouviu um grande sermão meu, rsrs... disse a ele que os “idosos” eram normais e tinham o direito de saírem para onde e quando quisessem e blá, blá, blá...
Sei que já tive essa conversa com vários amigos, mas entristeço-me com esta idéia equivocada sobre “velhice”... Claro que eles não sabem que trabalho com uma “senhora” de quase sessenta anos que vende objetos eróticos e explica as maravilhas de cada um... rs e que existem diversas senhoras "Ana" e senhores "Pedro" por aí, que descobrem que estar mais “velho” não quer dizer “morto”.
Acredito que vivemos imersos num campo de “ilusões”, peço licença para resumir o que acho disso tudo com uma frase do Augusto Cury, “... a sociedade atual possui um rolo compressor que massifica o intelecto dos jovens, aborta o pensamento crítico e os tornam estéreis, meros repetidores de dados”. Acho que é por aí, vivemos à sombra de uma sociedade que valoriza o visual em detrimento ao conteúdo real e essência humana. Fazemos questão de lamber a embalagem e colocá-la em pontos alto para que as pessoas possam ver o quanto sabemos amar o externo e o vazio. Esquecemos que o amanhã vem para todos, juntamente com as rugas e os cabelos brancos, e por que não nos preocuparmos que venha com a sabedoria?
Esse culto à beleza faz pessoas desfigurarem seus rostos acreditando que podem voltar a ter um de quinze. Ingênuos, não há cirurgias que apaguem as cicatrizes do coração, pois estas sim são motivos de preocupação. Acho que andamos tão preocupados com o externo que nos esquecemos de cuidar do mais importante, em minha opinião, que é tentar responder a questões bem simples, como: Quem somos? O que nos faz feliz? O que precisamos melhorar para sermos bons seres humanos?
Sei lá, muitas vezes penso que sou realmente muito ingênua, minhas amigas me chamam de aspirante a Santa, rsrsrs, mas possivelmente posso ser classificada como um “ser pensante”, afinal não me imagino sem meus pensamentos, onde eles se mostram sedentos de respostas. Normalmente respondo para muitos como sendo uma “ignorância humana” esta falta de “reconhecer-se”, ou talvez a experiência que cada um passa, pois esta sim é motivo de muitas de nossas ações.
Resumindo este assunto que dava para falar dias, penso que o medo de envelhecer faz perder uma fase super importante de nossa vida, o “amadurecimento”. Parece-me que envelhecer, amadurecer, tornar-se um sábio, ficou para poucos.
Mavie