domingo, 8 de março de 2009

A vergonha


Confesso que nestes dias me encontro em meio a grandes reflexões. Dois livros, uma propaganda de cerveja, um caso grave de repercussão nacional com mais uma infeliz manifestação da igreja católica e por fim uma pergunta: O que estamos fazendo com os nossos valores.

“A vontade de poder e independência se tornou tão disseminada que agora é considerada normal” (A Cabana - William P. Young). Fato, o modelo em que a humanidade vive hoje está longe de ser aquele capitalismo idealizado, ao contrário, esse sistema foi totalmente distorcido ao longo dos anos, vivemos forçados dentro de uma concorrência feroz e esmagadora, onde os valores humanos perdem lugar para os patrimoniais.

Ainda sobre o livro acima citado, será que Mackenzie estava certo ao falar que gastamos a maior parte no nosso tempo e energia tentando adquirir o que achamos “bom” como segurança financeira, poder, saúde e aposentadoria, etc? E mais uma quantidade gigantesca de energia e preocupação temendo o que determinamos que fosse “mau”?

O segundo livro também me dá uma verdadeira fisgada:

“ – Quando considero a brevidade da existência dentro do pequeno parêntese do tempo e reflito sobre tudo o que está além de mim e depois de mim, enxergo minha pequenez. Quando considero que um dia tombarei no silêncio de um túmulo, tragado pela vastidão da existência, compreendo minhas extensas limitações e, ao deparar com elas deixo de ser Deus e liberto-me para ser apenas um ser humano...”, (Augusto Cury – O Vendedor de Sonhos).   

O tempo passa tão rápido que quando nos damos conta já foi, vivemos no excesso: de compromissos, informações, pressões sociais, competições, metas, cobranças, etc. Olho ao meu redor e percebo que vivo cercada de pessoas robotizadas, sem propósitos, sem significado, sem metas, especialistas em seguir ordens e não em pensar, em olhar além do próprio umbigo... O que fazemos com este individualismo? Ou melhor, o que fazemos com esta cegueira humana?

Não sei o que se passa na cabeça de vocês, mas existem momentos que o vazio toma conta de minha alma, parece que falta tudo, deixo de perceber-me. Daí leio um livro, a bíblia, e volto, acredito que Deus é amor, assim como o pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Entretanto, me perdoem por expressar aqui uma grande dúvida:

Com que direito um bispo ou a igreja católica pode interferir na vida de uma família, alvo de uma tragédia, mas precisamente uma criança de nove anos, vítima de estupro com gravidez gemelar correndo risco de morte caso levasse a gestação adiante e ainda se sentindo no direito de excomungar a equipe médica e a família da menor, com o total apoio do Vaticano, bem como acontecia no época da inquisição. Será que as pessoas compreendem o real significado do Livre Arbítrio que nos foi concedido por Deus? Ou melhor, até onde o homem pode julgar o certo e o errado? Certo para quem?

Como hoje sou a personificação dos questionamentos, quero deixar bem claro que quando penso no personagem “guerreiro” me vem à cabeça Jesus Cristo, Gandhi, Joana d´Arc, São Jorge e várias outras personalidades que contribuíram com suas próprias vidas na esperança de se construir um mundo melhor. No entanto, hoje assistindo televisão, me deparei com um comercial de cerveja chamando um famoso jogador de futebol de guerreiro.

Antes de comentar o fato, quero deixar bem claro que não tenho nada contra futebol, muito pelo contrário, apenas acho que é lamentável um homem que não conhece o significado de respeito por ele e por seus entes ser tratado como GUERRREIRO em uma sociedade tão sofrida e miserável onde a maioria dos pais de família tem de trabalhar 12, às vezes 14 horas por dia para ganhar um salário mínimo e sustentar uma família numerosa. Então meus amigos me digam, dentro desse contexto, quem seriam verdadeiramente os grandes guerreiros do nosso país??? 


Dedico este texto a Anna, uma amiga que me ajuda nessa caminhada de descobertas e crescimento!


Mavie